O setor de alimentos lidera a retomada das contratações da indústria neste ano no Sul de Minas. Conforme dados divulgados pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, o setor gerou 77 novas vagas de trabalho na região nos dois primeiros meses de 2019. Em todo o ano passado, foram 286 vagas fechadas no Sul de Minas.
“Isso significa que 2019 já começou com uma perspectiva um pouco melhor, porque quando a indústria resolve empregar, fazer investimentos em contratações e mão de obra, você já está visualizando um cenário mais positivo”, disse a gerente de economia da Fiemg, Daniela Britto.
Segundo a Federação das Indústrias, o setor alimentício é o principal componente da indústria de transformação no Sul de Minas, responsável por 25,3%, ou R$ 309,9 milhões, de tudo que é arrecadado pela indústria em ICMS. Além disso, a categoria é responsável por 18% dos empregos e 12% de todas as indústrias.
Conforme a gerente, essa retomada, mesmo que ainda tímida, está relacionada ao aumento do nível de confiança e otimismo dos empresários em relação à economia, o que beneficia os investimentos e tem como consequência a diminuição do desemprego. No ano passado, o índice de confiança dos empresários beirou os 50 pontos, mas depois das eleições, saltou para 63.
Setor automobilístico em declínio
Se o setor alimentício apresenta bons resultados nestes primeiros meses de 2019, o mesmo não pode ser dito do setor automobilístico, representado no Sul de Minas principalmente por fábricas responsáveis pela fabricação de peças automotivas.
No ano passado, o saldo de geração de empregos do setor fechou positivo na região com 279 novas vagas, mas só neste início de ano, o saldo é de 389 postos de trabalho fechados.
Na semana passada, uma das mais importantes fábricas do setor na região, a Cofap, em Lavras (MG), anunciou a demissão de 72 funcionários do quadro de mais de 1,5 mil colaboradores. Segundo informações do Sindicato dos Metalúrgicos do município, o motivo seria uma reestruturação da empresa – no ano passado, a empresa, que pertencia à Magneti Marelli, do grupo Fiat Chrysler, foi vendida para a japonesa Calsoni Kansei, controlada pela companhia norte-americana de investimentos KKR.
Para a especialista da Fiemg, os números negativos da região acompanham os apresentados em todo o estado. Ao todo, já são 2,5 mil vagas fechadas no setor. Um dos motivos para isso é a queda das exportações, principalmente para a Argentina, o que provoca um acúmulo de unidades produzidas paradas nos pátios e uma ociosidade da indústria.
“Se há uma redução de produção da indústria automobilística, também há no provedor, na sua cadeia produtiva. O que está acontecendo com o setor automotivo é que ele é um setor que no ano passado se beneficiou muito com as vendas para a América Latina e, com a crise argentina, as exportações caíram muito a partir do 2º semestre de 2018”, explica Daniela.
Perspectiva de crescimento
A gerente acrescenta ainda que, apesar da diminuição de exportações, o setor vislumbra uma melhora no mercado interno. “Ainda há uma expectativa de melhora nas vendas internas, mas a pujança nas exportações já não está presente, o que explica a contração no setor”, diz Daniela.
Ainda conforme a especialista, setores como alimentos e têxtil tendem a apresentar melhores resultados a curto prazo do que as indústrias ligadas ao setor automotivo.
“O setor de alimentos é um setor que tende a se beneficiar com a redução do desemprego, com a inflação em níveis baixos, com uma política monetária expansionista que incentiva o consumo, então isso é favorável não só para o setor de alimentos, mas para o setor têxtil também, que é outro que é importante na região”, destaca.
“Mas por outro lado, o setor automotivo já tende a beneficiar menos com o cenário externo, com as exportações, e se orientar mais para o mercado interno, com a expectativa de crescimento de 3,5% este ano, mas ainda há muita ociosidade da capacidade instalada, então não há perspectivas de aumento das contratações, ampliações de fábricas, isso não é esperado”, conclui Daniela.